A trajetória da Valentino, uma das mais prestigiadas casas de moda italiana, começou em 1960, quando Valentino Garavani abriu seu primeiro ateliê na Via Condotti, em Roma. Com uma visão única e um talento excepcional para criar peças elegantes, Valentino rapidamente se estabeleceu como uma referência na alta-costura mundial.
Sumário
O Início de um Império
Valentino Garavani nasceu em 11 de maio de 1932, em Voghera, uma pequena cidade italiana na província de Pavia. Filho de Mauro Garavani e Teresa de Biaggi, desde criança demonstrou interesse por moda, desenvolvendo seus primeiros desenhos aos 9 anos de idade, inspirado pelos vestidos que via no cinema.
Sua jornada profissional começou aos 17 anos, quando se mudou para Paris com o apoio de seus pais. Na capital francesa, estudou na prestigiada École de la Chambre Syndicale de la Couture Parisienne, onde aperfeiçoou suas habilidades em design e técnicas de alta-costura. Durante este período, conquistou o primeiro lugar em um concurso da International Wool Secretariat, mesmo prêmio que anos antes havia revelado Yves Saint Laurent e Karl Lagerfeld.
Entre 1950 e 1952, trabalhou como apprenti (aprendiz) no ateliê de Jean Dessès, onde teve contato com a elite da moda parisiense. Em seguida, de 1957 a 1959, atuou como assistente de Guy Laroche, refinando ainda mais sua técnica e visão criativa.
Em 1959, Valentino retornou à Itália e, com apoio financeiro de seu pai, estabeleceu seu primeiro ateliê em Roma, na Via Condotti 11. No mesmo ano, conheceu Giancarlo Giammetti, que se tornaria seu parceiro de negócios e companheiro de vida. Giammetti, que estudava arquitetura na época, abandonou sua carreira para administrar o lado comercial da marca Valentino.
O primeiro desfile da maison aconteceu em 1962, na Sala Bianca do Palazzo Pitti, em Florença. A coleção foi um sucesso imediato, chamando a atenção de compradores internacionais e da imprensa especializada. O evento marcou o início da ascensão meteórica da marca no cenário da moda mundial.
O Vermelho Valentino
A história do icônico “Vermelho Valentino” começou em 1959, durante uma viagem a Barcelona, quando o estilista visitou o Teatro del Liceu. No local, ficou fascinado ao observar a plateia, onde uma mulher usando um vestido vermelho se destacava em meio aos tons escuros. Esta tonalidade específica (18-1663 TP, segundo o catálogo Pantone) foi desenvolvida através de uma combinação precisa de 100% magenta, 100% amarelo e 10% preto.
A cor tornou-se oficialmente parte da identidade da marca em 1968, quando Valentino apresentou sua histórica “Coleção Branca” em Roma. Apesar do nome, a coleção incluía diversos looks em vermelho vibrante, estabelecendo um contraste marcante que revolucionou a moda da época.
O processo de desenvolvimento do “Vermelho Valentino” envolveu meses de experimentação em tinturarias italianas. Garavani buscava uma tonalidade que combinasse a intensidade do vermelho sangue com a sofisticação do vermelho carmim. O resultado foi uma cor que simboliza poder, paixão e elegância italiana.
A cor ganhou ainda mais destaque quando Elizabeth Taylor usou um vestido nesta tonalidade durante a première do filme “Spartacus” em Roma. O momento foi seguido por outras celebridades como Sophia Loren, Jackie Kennedy e Audrey Hepburn, que ajudaram a consolidar o “Vermelho Valentino” como símbolo de luxo e refinamento.
Em 1971, a marca registrou oficialmente a cor como propriedade intelectual, tornando-se uma das primeiras casas de moda a proteger legalmente uma tonalidade específica. Desde então, o “Vermelho Valentino” tem sido utilizado em todas as coleções da marca, desde vestidos de alta-costura até acessórios e perfumes.
A Expansão Global
Em 1962, Valentino conquistou o mercado americano ao abrir sua primeira boutique internacional na Madison Avenue, em Nova York. A expansão foi facilitada por Elizabeth Arden, que ofereceu espaço em suas lojas para as criações do estilista italiano.
O momento decisivo veio em 1964, quando Jackie Kennedy visitou a boutique Valentino em Nova York, iniciando uma relação que mudaria a história da marca. Em 1967, a primeira-dama americana encomendou seis vestidos de alta-costura, usando-os em ocasiões públicas importantes.
Em 1968, Kennedy escolheu um vestido Valentino de renda branca para seu casamento com Aristoteles Onassis, solidificando a reputação da marca internacionalmente. O vestido, criado em Roma, apresentava detalhes em renda e uma silhueta minimalista que definiu tendências para vestidos de noiva nas décadas seguintes.
Durante os anos 70, Valentino expandiu para Paris, abrindo um ateliê de prêt-à-porter na Place Vendôme. Em 1975, apresentou sua primeira coleção de alta-costura em Paris, tornando-se um dos poucos estilistas não-franceses aceitos na Chambre Syndicale de la Haute Couture.
A marca continuou sua expansão global nos anos 80, estabelecendo presença em mercados-chave como Japão, Hong Kong e Oriente Médio. Em 1989, lançou a linha mais acessível “Oliver”, nomeada em homenagem ao pug favorito de Valentino.
Bolsas Valentino: Um Novo Capítulo
A divisão de acessórios da Valentino ganhou destaque em 1983, com o lançamento da primeira coleção completa de bolsas. O sucesso foi imediato com a introdução da icônica “Valentino Garavani Rockstud”, que apresentava os característicos spikes dourados.
Em 2000, a marca revolucionou o mercado de luxo com a Bolsa Valentino Dourada da coleção “Roman Stud”. Feita em couro napa, com acabamento metalizado e detalhes macro studs, tornou-se um best-seller instantâneo, gerando listas de espera em boutiques ao redor do mundo.
A linha de bolsas Valentino expandiu significativamente sob a direção de Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli (2008-2016). Eles introduziram modelos emblemáticos como:
- VLogo Signature (2010)
- Valentino Garavani Locò (2012)
- One Stud (2015)
Em 2020, a marca lançou a coleção “Roman Palazzo”, apresentando novas versões da Bolsa Valentino com elementos arquitetônicos inspirados em Roma. A linha incluiu edições limitadas em parceria com artistas contemporâneos.
O departamento de acessórios atualmente representa 65% do faturamento total da marca, com as bolsas Valentino sendo responsáveis por 40% desse valor.
Valentino vs Valentino Garavani: Entendendo a Diferença
A distinção entre Valentino e Valentino Garavani vai além da nomenclatura. Valentino é a casa de moda fundada em 1960, representando toda a marca, suas coleções e patrimônio criativo. Valentino Garavani é o nome completo do fundador, que também é conhecido como “O Último Imperador da Moda”.
Em 2007, Valentino Garavani anunciou sua aposentadoria. Seu último desfile de alta-costura aconteceu em janeiro de 2008, em Paris, apresentando 75 looks em seu característico vermelho. A celebração incluiu uma retrospectiva de 45 anos de carreira no Musée des Arts Décoratifs.
Após sua aposentadoria, a marca manteve apenas “Valentino” como nome comercial principal. No entanto, certas linhas de produtos, especialmente acessórios, mantêm o nome “Valentino Garavani” como tributo ao fundador. Esta decisão estratégica preserva o legado do criador enquanto permite que a marca evolua sob nova direção criativa.
A separação dos nomes também facilitou a transição da marca para novos mercados e gerações de consumidores, mantendo a conexão com sua herança histórica através da linha “Valentino Garavani”, enquanto “Valentino” representa a visão contemporânea da marca.
Mudanças na Propriedade
A história corporativa da Valentino foi marcada por várias mudanças significativas na propriedade. Em 1998, a marca foi vendida por US$ 300 milhões para a HdP (Holding di Partecipazioni Industriali), um grupo italiano de investimentos.
Em 2002, a Valentino Fashion Group foi adquirida pela Marzotto Apparel, uma das maiores empresas têxteis da Itália, por €240 milhões. Esta fusão resultou na criação da Valentino Fashion Group S.p.A., que incluía também as marcas Hugo Boss e Marlboro Classics.
Em 2007, a Permira Funds, um fundo de private equity europeu, comprou a marca por €2.6 bilhões. Durante este período, a empresa enfrentou desafios financeiros devido à crise econômica global de 2008.
Em 2012, a Mayhoola for Investments, fundo de investimentos do Qatar controlado pela família real Al-Thani, adquiriu a Valentino por €700 milhões. Sob gestão da Mayhoola, a marca experimentou um crescimento significativo:
- Faturamento aumentou de €370 milhões em 2012 para €1.2 bilhões em 2019
- Expansão da rede de lojas de 100 para mais de 200 unidades
- Investimentos em digitalização e e-commerce
- Modernização da produção mantendo a tradição artesanal italiana
Em 2023, a Mayhoola vendeu 30% da Valentino para o grupo de luxo Kering por €1.7 bilhões, com opção de compra total até 2028.
A Era Contemporânea
Sob a direção criativa de Pierpaolo Piccioli desde 2016, a Valentino passou por uma transformação significativa que mesclou tradição com modernidade. Piccioli, que trabalhou ao lado de Maria Grazia Chiuri na marca desde 1999, assumiu sozinho a direção criativa após a saída de Chiuri para a Dior.
Principais marcos da era Piccioli:
- Redefinição do “Vermelho Valentino” para a geração millennial
- Coleção “Pink PP” (2022) que criou uma nova identidade cromática
- Colaborações com marcas streetwear como Undercover e Moncler
- Introdução da linha Valentino Garavani Sneakers
- Democratização da marca através de coleções mais acessíveis
Em 2020, durante a pandemia, a Valentino tornou-se a primeira marca de luxo italiana a apresentar um desfile digital de alta-costura. A apresentação “Of Grace and Light” combinou elementos físicos e digitais, estabelecendo um novo padrão para desfiles virtuais.
No último ano fiscal, a marca reportou:
- Receita de €1.4 bilhões
- Crescimento de 18% no segmento digital
- Expansão de 42% no mercado asiático
- Aumento de 27% nas vendas de acessórios
Inovações e Sustentabilidade
Em 2021, a Valentino lançou sua estratégia de sustentabilidade “Creating Shared Value”, estabelecendo metas ambiciosas para 2025:
- Eliminação total de peles animais
- 100% de energia renovável nas operações diretas
- Redução de 50% nas emissões de CO2
- Rastreabilidade completa da cadeia de fornecimento
Inovações tecnológicas:
- Desenvolvimento de couros veganos
- Tecidos reciclados em alta-costura
- Embalagens biodegradáveis
- Sistema digital de prototipagem 3D
- NFTs exclusivos para coleções limitadas
Certificações conquistadas:
- ISO 14001 para gestão ambiental
- SA8000 para responsabilidade social
- RJC (Responsible Jewellery Council)
A marca investiu €150 milhões em pesquisa e desenvolvimento de materiais sustentáveis entre 2020-2023.
Legado e Futuro
O legado Valentino transcende gerações através de marcos históricos:
- Vestidos usados por ícones como Elizabeth Taylor, Sophia Loren e Lady Gaga
- Exposição “Valentino: Temi e Variazioni” no Ara Pacis Museum (2007)
- Documentário “Valentino: The Last Emperor” (2008)
- Museu Virtual Valentino Garavani inaugurado em 2011
- Retrospectiva no Somerset House, Londres (2012)
Contribuições para a moda:
- Técnicas exclusivas de drapeado
- Método único de bordado em camadas
- Padrão “V” tridimensional patenteado
- Sistema de modelagem arquitetônica
A Nova Geração Valentino
A marca se reinventou para o público jovem mantendo sua essência:
- Linha V-Logo para millennials
- Coleção Re-Edition recuperando designs históricos
- Valentino Beauty lançada em 2021
- Metaverso Valentino com experiências virtuais
- Programa de mentoria para jovens designers
Faturamento por segmento (2023):
- Ready-to-wear: 35%
- Acessórios: 45%
- Calçados: 15%
- Licenciamentos: 5%
Conclusão
A história da Valentino é um testemunho de excelência na moda italiana, evoluindo de um ateliê em Roma para uma potência global de luxo. A marca continua revolucionando a moda, mantendo sua herança enquanto abraça inovação e sustentabilidade.
Nós do Blog Moda Italiana, agradecemos sua leitura sobre a história desta icônica marca italiana. Para ficar por dentro das últimas novidades do mundo da moda, siga-nos em nossas redes sociais (@BlogModaItaliana) e participe de nossas comunidades no WhatsApp e Telegram. Juntos, vamos explorar ainda mais o fascinante universo da moda italiana